Uma crónica de Andreia Azevedo Soares (Jornalista)

Quem diria que uma conversa sobre inclusão, realizada num feriado chuvoso, poderia reunir algumas dezenas de pessoas? Foi precisamente o que ocorreu no passado dia 8 de Dezembro, na Escola da Vilarinha, no Porto, quando cerca de 35 membros da comunidade (incluindo pais e professores) estiveram presentes na biblioteca escolar para ouvir (e interagir com) três profissionais que, todos os dias, trabalham com a diferença: a técnica de educação especial Inês Cabrita, o pedopsiquiatra João Guerra e o co-fundador da MEERU Nicolau Osório. Se pensarmos que esse mesmo feriado calhava numa quinta-feira, um dia que parecia mesmo pedir uma ponte, esta adesão sugere que há ali um núcleo de pessoas interessadas num tema que não é fácil nem consensual.


E por que é tão difícil falar em inclusão? Há várias razões, mas arrisco enunciar duas delas: incluir dá trabalho e não interessa a todos. Incluir pode implicar fazer ajustes e adaptações. E, nesta sociedade veloz, queremos ser rápidos, eficientes e competitivos. Incluir muitas vezes significa fazer diferente e até melhor, escolher um caminho mais longo, mas mais rico. E também pode significar fazer esforços que dão frutos às vezes sim, às vezes não. Incluir não é uma ciência exacta, nem um manto mágico que, de repente, cai sobre um grupo de pessoas e o transforma numa comunidade harmoniosa e singela. Não é assim que funciona. Incluir é um processo. E, como em todas as relações humanas, essa construção não é isenta de asperezas, dificuldades, não-ditos e incompreensões. Pode conter dor também. Mas também momentos jubilosos.
Aquilo que os três especialistas em inclusão partilharam connosco naquela manhã formidável de 8 de Dezembro foi (não só mas também) isto: a inclusão não é um caminho necessariamente fácil, não se faz num dia, exige cooperação de várias partes mas também oferece vantagens únicas. Apenas um exemplo: crianças típicas que crescem com colegas com diferenças podem sofisticar competências sociais como a tolerância, a negociação e a diplomacia. Muito mais exemplos e ideias foram partilhados pela Inês, pelo João e pelo Nuno, e também pela comunidade, que colocou questões interessantes e partilhou histórias.
Espero que este encontro tão bem organizado pela associação de pais (APEVI) seja apenas o primeiro de outros eventos que ajudem a solidificar o caminho de inclusão que já está a ser construído na Vilarinha.


*Nota da APEVI: Para que os pais pudessem participar nesta conversa, organizamos no polivalente uma actividade dirigida para crianças leituras encenadas) dinamizadas por RIta Costa.